O 'Ensaio sobre a cegueira' e a interdição ao sabor: literatura, cinema e práticas discursivas de sujeição
LITERATURA, CINEMA E PRÁTICAS DISCURSIVAS DE SUJEIÇÃO
DOI:
https://doi.org/10.35921/jangada.v0i11.139Palavras-chave:
Alimentação, José Saramago, Cinema, LiteraturaResumo
O presente artigo apresentará pronunciamentos enunciativos de compreensão de excertos extraídos do romance Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago e do filme de mesmo nome, dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles. Trata-se, portanto, de uma pesquisa qualitativa de viés exploratório e de cunho bibliográfico cujas análises serão empreendidas a partir das contribuições de Michel Foucault, Jean-Louis Flandrin e Massimo Montanari, Lévi-Strauss, Linda Hutcheon, Roland Barthes e Henrique Carneiro. Consideramos que a comida é também fonte de expressão e não apenas uma necessidade. Tanto quanto a necessidade de alimentar-nos nos expressamos através de hábitos alimentares, ritos e forma, (diversas) de reagir à ausência de alimentos. Nas obras ficcionais, a interdição dos alimentos é discursiva e remete ao terreno das práticas em que alguns são proibidos e outros são os que decidem, negligenciando-se princípios éticos para coisificar mulheres como moeda de troca aproximando as relações humanas de um viés utilitarista. Aos interditados, resta a negação ao direito de escolha e o afastamento de dimensões emancipatórias no que diz respeito a escolhas relacionadas ao ato de alimentar-se. Concluímos, neste contexto, que as relações de poder atravessam práticas individuais e coletivas interagindo com dimensões subjetivas dos indivíduos que resultam em formas de sujeição.
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