Espólios violentos: a transmissão transgeracional da ditadura militar no romance brasileiro do século XXI

Autores

  • Lua Gill da Cruz Universidad de Chile

DOI:

https://doi.org/10.35921/jangada.v1i19.413

Palavras-chave:

literatura transgeracional; literatura brasileira contemporânea; ditadura militar; segunda geração.

Resumo

Há “giro geracional”, nos termos de Leonor Arfuch (2018), em curso, em relação à produção artística dedicada ao tema da ditadura militar no Brasil: agora, deslocados temporalmente, autores e autoras de uma segunda geração do evento, herdeiros dos traumas do(s) outro(s), tomam de assalto a palavra sobre o passado brasileiro, seja ela familiar ou não, e reabrem o que é aparentemente (des)conhecido. Neste artigo, se analisará, especialmente, as narrativas que questionam as formas de transmissão dos sentidos do passado ditatorial brasileiro por aqueles que não o viveram diretamente, a partir dos livros O amor dos homens avulsos (2016), de Victor Heringer e O corpo interminável (2019), de Claudia Lage, observando, em especial, como os textos discutem as formas de transmissão da violência e do medo, parte do ambiente familiar e nacional dos personagens, transmitidos (direta ou indiretamente) ao longo do tempo por aqueles que perpetraram ou colaboraram com o regime ditatorial. Buscaremos atentar então para os restos dessas narrativas não integradas de violência e de legados ainda mais escondidos e negados, observando de que forma são recuperadas pela geração seguinte, como e a partir de que meios sobrevivem e são transmitidas, de que maneira questionam as formas de responsabilização, bem como de que escapam à e se mantém na obscuridade, tantos anos depois.

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Publicado

2022-06-30

Como Citar

Gill da Cruz, L. (2022). Espólios violentos: a transmissão transgeracional da ditadura militar no romance brasileiro do século XXI. Jangada: Crítica | Literatura | Artes, 10(1), 5–28. https://doi.org/10.35921/jangada.v1i19.413