Liberalismo e comparatismo na crítica acadêmica paulista do século XIX

Autores

  • Natália Gonçalves de Souza Santos UFV

DOI:

https://doi.org/10.35921/jangada.v12i2.615

Palavras-chave:

imprensa acadêmica, nacionalismo literário, romantismo, O guaianá

Resumo

A Faculdade de Direito de São Paulo está imbuída do espírito liberal, desde seus primórdios. A ideia de sua criação perpassa o desejo dos políticos do Sul do Império de construírem uma “república de sábios”, no dizer de José Bonifácio, contrapondo-se ao que reputavam como sendo o velho Norte agroexportador. Essa ideia circulou desde a participação dos deputados paulistas nas Cortes de Lisboa, mas só veio a se consolidar após a Assembleia Constituinte brasileira, no pós-independência. Tendo em vista essa tradição liberal que permeia a ideologia bacharelesca oitocentista, a proposta deste artigo é discutir a recepção acadêmica aos primeiros estudos comparatistas que começaram a circular na Faculdade, via imprensa e traduções, em meados do século XIX. Provenientes sobretudo da França e desenvolvidos no seio das cátedras de literaturas estrangeiras, criadas em Paris, em 1830, esses estudos têm como pano de fundo tendências liberais, uma vez que se baseiam no cosmopolitismo, nas interações sem fronteiras, na impossibilidade do isolamento e da pureza de uma dada literatura. Ao mesclar comparatismo e liberalismo e valendo-se da margem de liberdade propiciada pela condição estudantil e mesmo, geográfica, os críticos-estudantes procuraram pluralizar o debate em torno da constituição da literatura brasileira.

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Publicado

2025-04-20

Como Citar

Gonçalves de Souza Santos, N. (2025). Liberalismo e comparatismo na crítica acadêmica paulista do século XIX. Jangada: Crítica | Literatura | Artes, 12(2), e120204. https://doi.org/10.35921/jangada.v12i2.615