Poesia e precariedade: os possíveis e a política do contemporâneo
DOI:
https://doi.org/10.35921/jangada.v1i19.415Palavras-chave:
Poesia brasileira, Poesia contemporânea, Política, Comunidade, Vida precáriaResumo
O presente trabalho visa investigar as relações possíveis entre política e poesia contemporânea brasileira. Para tanto, nos voltamos para um entrevista, ocorrida em setembro de 2018, em que as poetas brasileiras Simone Brantes e Laura Liuzzi respondem a questionamentos e ensaiam suas compreensões sobre a poesia brasileira em contexto de crise e falência política. Suas reflexões parecem se desenvolver por dois lados: primeiro, é preciso assumir a ineficácia da poesia em efetivar qualquer horizonte emancipatório ou salvífico; em segundo lugar, trata-se de tentar pensar a conotação política de que se reveste a mera existência do poema, sua sobrevivência precária, reiterada no gesto ínfimo de (ainda) escrever. São sobretudo os sentidos possíveis desse segundo aspecto que o presente trabalho visa desdobrar. Nesse intuito, recorremos a um diagnóstico negativo de Iumna Maria Simon e a alguns apontamentos de Maurice Blanchot. Contrastando essas compreensões (ora atritantes, ora incompatíveis) do fazer artístico e de seus possíveis, e recorrendo ainda ao pensamento político de Judith Butler e Jacques Rancière, propomos que o campo da poesia contemporânea brasileira se organiza como uma comunidade de corpos precários e oferece, assim, à política a figura – desconsolada, mas vital – de uma comunidade (poética) fundada em torno da vulnerabilidade.
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