A "Escola realista" francesa: uma invenção do teatro brasileiro? (Anos 1850-1860)

Autores

  • Daniel Nogueira Polleti Université Paris-Saclay

DOI:

https://doi.org/10.35921/jangada.v1i17.366

Palavras-chave:

Teatro brasileiro, Transferência cultural, Ginasio Dramatico, Teatro de Boulevard

Resumo

Com esse artigo, nosso objetivo é não somente lançar luz sobre um período da história do teatro brasileiro, mas sobretudo propor uma nova interpretação para a escrita dessa história, que recoloca o teatro brasileiro no contexto de uma história global do teatro pelo estudo de um caso específico: a adoção do teatro de boulevard francês pelos homens de letras brasileiros nas décadas de 1850 e 1860, de onde o interesse em se pensar em termos de uma “transferência cultural”. Se a dramaturgia dita realista prosperou no Brasil por alguns anos, foi porque ela encontrou na sociedade brasileira da época um conjunto de fatores que fizeram dela viável, que incluem as transformações sociais da época, o alargamento do mercado editorial e de diversões que resultam, por sua vez, em desequilíbrios do campo literário e mudanças na concepção do trabalho intelectual. Os homens de letras, de seu lado, aproveitam a plasticidade desse produto cultural e vão ressignificá-lo dentro dos processos que estão ocorrendo dentro de seu próprio campo e de uma certa tradição nacional. Assim, eles criam uma história do teatro nacional dentro de uma história global e se posicionam em relação ao seu passado em ruptura e, ao mesmo tempo em continuidade.

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Publicado

2021-08-09

Como Citar

Nogueira Polleti, D. (2021). A "Escola realista" francesa: uma invenção do teatro brasileiro? (Anos 1850-1860). Jangada: Crítica | Literatura | Artes, 9(1), 53–80. https://doi.org/10.35921/jangada.v1i17.366